Título: Le fabuleux destin d'Amélie Poulain
Título no Brasil: O fabuloso destin de Amélie Poulain
Diretor: Jean Pierre Jeunet
Roteirista: Guillaume Laurant e Jean Pierre Jeunet
Cast: Audrey Tautou, Mathieu Kassovitz, Serge Merlin.
Hearts: ♥♥♥♥♥
Enrolei milênios para
finalmente desvendar o Fabuloso destino de Amélie Poulain, e hoje simplesmente
não entendo como pude viver tanto tempo sem tê-lo assistido. Fazia tempos que
não assistia a um filme tão encantador e inspirador assim; tão perfeito que faz
quase uma semana, e ainda não achei palavras para descrevê-lo. Por isso, decidi
ficar com o adjetivo usado no título do filme: Fabuloso! Amélie é simplesmente
fabuloso, do roteiro à fotografia. Da atuação à mensagem. Eu - uma sem coração
nata - estou apaixonada. Acho que o filme cumpriu com seu objetivo,
afinal.
"Estranho o
destino dessa jovem mulher privada dela mesma, porém, tão sensível ao charme
das coisas simples da vida..."
O filme conta a
história de Amélie (Audrey Tautou), uma menina que cresceu isolada de outras
crianças porque seu pai - e médico - achava que a pobre tinha uma arritmia
cardíaca. Devido à tal doença Amélie fora educada em casa por sua mãe que era
professora. Apesar de ser uma criança amada, seus pais nunca mantiveram
relações muito estreitas e afetuosas com a ela e a falta de relacionamento
familiar se agravou quando sua mãe veio a falecer ainda em sua infância.
Essa dificuldade de criar e manter laços com outras pessoas somada a vários
outros fatores influência muito na maneira como Amélie se relaciona com os outros em sua
vida adulta. Ou seja: Amélie não se relaciona e ponto final.
"Se Amélie prefere
viver no sonho e ser uma moça introvertida, é direito dela. Pois estragar a
própria vida é um direito inalienável.’’
Quando
se torna adulta, a moça percebe que viver com seu pai pela o resto da vida estava fora de cogitação e decide mudar-se para Montmartre, onde arranja um emprego
como garçonete. Certo dia Amélie acha por coincidência em seu banheiro uma caixinha
cheia de fotografias e lembranças do passado de alguém desconhecido, e é aí que
seu destino muda para sempre. Apaixonada por mistérios como sempre foi, a moça
vai atrás do homem da caixinha e ao conseguir encontrá-lo e devolvê-lo seus
pertences, sente no peito uma vontade inquietante de ajudar e resolver os
problemas de todas as pessoas. E assim ela faz, só esquecendo de si mesma.
A
verdade é a timidez de Amélie é tão grande que nem mesmo namorados ela costuma
arranjar. Tentou algumas vezes, mais nada saíra como esperado, então ela logo
desistiu. Até que encontrou Nino (Matthieu Kassovitz), o moço do
álbum de fotos - tão misterioso e peculiar quanto a mesma. Seria o namorado
perfeito, não fosse a sua timidez.
- Ela prefere imaginar uma relação com alguém
ausente do que criar laços com aqueles que estão presentes.
- Hummm, pelo contrário. Talvez faça de tudo para
arrumar a vida dos outros.
- E ela? E as suas desordens? Quem vai pôr em ordem?
Apesar
de muito introvertida, Amélie possui alguns amigos e o locutor do filme adora
ressaltar as manias de cada personagem. Amélie, por exemplo, aprecia os
pequenos prazeres como enfiar a mão num saco de
grãos, quebrar a casquinha do crème brûlée com uma colher e jogar pedras no
canal St. Martin. Sr. Dufayel ou o pintor (Serge Merlin) –
meu segundo personagem favorito – é apaixonado pelo quadro “O almoço dos barqueiros” de Renoir, e pinta uma cópia do quadro
por ano, sendo o seu maior desafio retratar com fidelidade os olhos de uma das
moças da pintura. Para o pintor a moça parece alheia a tudo, como se quisesse
se privar do mundo, tal qual Amélie. Por isso o pintor, por meio de referências
à moça do quadro, está sempre tentando dizer a Amélie que ela precisa perder de
vez o medo de viver e parar de tentar resolver os problemas alheios, quando ela
mesma tem problemas de sobra.
“Então,
minha querida Amélie, você não tem ossos de vidro. Pode suportar os baques da
vida. Se deixar passar essa chance, então, com o tempo, seu coração ficará tão
seco e quebradiço quanto meu esqueleto. Então vá em frente, pelo amor de Deus!."
Acho que nem preciso
dizer que estou encantada com a história, né? Apesar de parecer meio confuso no
início (principalmente quando a áudio está em francês, a legenda em português e
o cérebro falhando de sono), mas o filme vale muito a pena. A história tem a
medida certa de humor, romance, sarcasmo, psicopatia e mistério, e todos esses ingredientes
muito bem dosados, fazem do filme algo tão delicioso quanto, como diria Amélie,
quebrar a
casquinha do crème brûlée com uma colher. Sei que a casquinha do meu coração foi quebrada, despedaçada e invadida
por essa bela historia. Por isso, se você ainda não viu, corra para a locadora
mais próxima e se delicie com o Fabuloso destino de Amélie Poulain.
“São tempos difíceis para os sonhadores...”