quinta-feira, 23 de maio de 2013

Cronices: Ecos no vácuo




Apesar de ser muito extrovertida, não gosto de falar em público. Não sou muito boa com palavras faladas, sempre me enrolo e falo coisas sem sentido. Fico nervosa, perco a linha de raciocínio, começo a suar, me dá branco. Também não gosto de telefonemas, prefiro as mensagens. Acho mesmo que tenho uma trava é com a minha voz. No entanto, gosto de escrever. As palavras escritas me revelam, me mascaram. Não sei porquê ao certo, mas me sinto mais segura com caneta e papel na mão. Falar não é seguro, e mesmo que fosse, falar e ser ouvido são coisas bem diferentes.
Fotografando pela cidade por esses dias parei para prestar a atenção nos detalhes, procurando uma boa história; algo visual, que falasse por si, e no entanto escutei os gritos das pessoas sem voz. Afora os rabiscos comuns – mera demarcação de território - desenhos e frases de protesto decoram o Rio como um todo. A cidade histórica hoje urbanizada, abriga muita gente, mas nas parede percebemos que nem todos acharam o seu lugar no mundo.

Sujeira, falta de educação, desrespeito ao patrimônio público, chamem como quiser; também não acho correto, mas antes de recriminar decidi imaginar os rostos escondidos  por trás de tais palavras. Seu dia-a-dia, sua realidade, quem sabe até mesmo a sua dor... Percebi que eles não são assim tão diferentes de mim. Quem não é muito de falar, tende a escrever na tentativa de ser lido, ouvido, sentido, e às vezes, escrever é a única forma de manter a cabeça no lugar.

Não estou aqui dizendo que pichar é correto e nem estimulando rabiscos sem propósito na parede branca do vizinho, estou falando de um tipo específico de pichação: a escrita, a poética. As bravas palavras não ditas carregadas de desespero, que vagueiam pela cidade e não chegam a ouvido algum. As sinceras palavras, tratadas como feias cicatrizes nas paredes da história da 'civilização'. As frases que diferentemente do som, se propagam e ecoam no vácuo, sem rumo, sem destino, procurando quem as ouça. As palavras que mudariam o mundo, caso reverberassem pelos quatro cantos da terra, mas hoje, escolheram mudar o meu mundo, a minha visão, a minha lente, a minha mente.



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Um comentário:

  1. "Quem não é muito de falar, tende a escrever na tentativa de ser lido, ouvido, sentido, e às vezes, escrever é a única forma de manter a cabeça no lugar" Tem como ser mais fofa, mais pé no chão e descrever toda essa minha confusão com as palavras do que isso? Acho que não. E é por isso que eu amo suas palavras. Ditas, escritas, guardadas... e mais tudo aquilo que a saudade não me deixa esquecer. Parece que estou te ouvindo quando leio, e também amo isso. Simplesmente amo-te.

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