Apesar de ser muito extrovertida, não
gosto de falar em público. Não sou muito boa com palavras faladas, sempre me
enrolo e falo coisas sem sentido. Fico nervosa, perco a linha de raciocínio,
começo a suar, me dá branco. Também não gosto de telefonemas, prefiro as
mensagens. Acho mesmo que tenho uma trava é com a minha voz. No entanto, gosto
de escrever. As palavras escritas me revelam, me mascaram. Não sei porquê ao
certo, mas me sinto mais segura com caneta e papel na mão. Falar não é seguro,
e mesmo que fosse, falar e ser ouvido são coisas bem diferentes.
Fotografando
pela cidade por esses dias parei para prestar a atenção nos detalhes,
procurando uma boa história; algo visual, que falasse por si, e no entanto
escutei os gritos das pessoas sem voz. Afora os rabiscos comuns – mera
demarcação de território - desenhos e frases de protesto decoram o Rio como um
todo. A cidade histórica hoje urbanizada, abriga muita gente, mas nas parede
percebemos que nem todos acharam o seu lugar no mundo.
Sujeira,
falta de educação, desrespeito ao patrimônio público, chamem como quiser;
também não acho correto, mas antes de recriminar decidi imaginar os rostos
escondidos por trás de tais palavras. Seu dia-a-dia, sua realidade, quem
sabe até mesmo a sua dor... Percebi que eles não são assim tão diferentes de
mim. Quem não é muito
de falar, tende a escrever na
tentativa de ser lido, ouvido, sentido, e às vezes, escrever é a única forma de manter a
cabeça no lugar.
Não estou
aqui dizendo que pichar é correto e nem estimulando rabiscos sem propósito na
parede branca do vizinho, estou falando de um tipo específico de pichação: a
escrita, a poética. As bravas palavras não ditas carregadas de desespero, que vagueiam
pela cidade e não chegam a ouvido algum. As sinceras palavras, tratadas
como feias cicatrizes nas paredes da história da 'civilização'. As frases que diferentemente do som, se propagam e ecoam no vácuo, sem rumo, sem destino, procurando quem as ouça. As palavras que mudariam o
mundo, caso reverberassem pelos quatro cantos da terra, mas hoje, escolheram
mudar o meu mundo, a minha visão, a minha lente, a minha mente.
"Quem não é muito de falar, tende a escrever na tentativa de ser lido, ouvido, sentido, e às vezes, escrever é a única forma de manter a cabeça no lugar" Tem como ser mais fofa, mais pé no chão e descrever toda essa minha confusão com as palavras do que isso? Acho que não. E é por isso que eu amo suas palavras. Ditas, escritas, guardadas... e mais tudo aquilo que a saudade não me deixa esquecer. Parece que estou te ouvindo quando leio, e também amo isso. Simplesmente amo-te.
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